Jorgê Pinheiro, o ator por trás da BUG



Nasci em Salvador – BA. Trabalhei como bailarino, no Senac Pelourinho num show tipicamente baiano, escondido dos meus pais, pois o meu pai militar era radicalmente contra. Imagina filho bailarino. Vim para São Paulo em outubro de 1984 com mais três amigos, sem conhecer ninguém, muito jovem e contra a minha vontade, pois na realidade queria ir era para o Rio de Janeiro, cidade maravilhosa.

Hoje não tenho nenhum arrependimento, amo muito esta cidade que me recebeu de forma tão carinhosa e acolhedora. Onde eu cresci e virei gente grande. Entrei para Escola Municipal de Bailado em 1985, cursando até o quinto ano de balé classico, Depois de muitos cursos e muitas aulas em inúmeras academias espalhadas por essa cidade gigantesca, fui trabalhar no SESC, como instrutor de atividades. Fiquei lá 1986/1991.

Trabalhei no Plataforma I, antigo “Beco”, na av. Paulista, entre os anos de 1990/1994, num show lindíssimo, grandioso, tipicamente folclore brasileiro. Neste mesmo período participava de shows no Paladium, casas noturnas e boates de São Paulo, muitos Festivais de Dança, e criei o grupo de dança “Equinoczia grupo de artes”

Onde coreografava, dirigia e produzia os espetáculos. Além de fazer às vezes de amigo, irmão mais velho, conselheiro, terapeuta... Tive momentos inesquecíveis.

Claro para me sustentar neste período fui enfermeiro (fiz um curso de At. de enfermagem ainda em Salvador/Ba 1982) no Ambulatório da favela Monte Azul, que tinha um trabalho social fantástico, (1985/6), onde dei aulas de dança, fiz muitas apresentações e grandes amigos, inclusive comecei a dar aulas para as crianças, e alguns anos depois voltei lá me apresentando no teatro da associação com o grupo Equinoczia.

Garçom em festas nos finais de semanas era sempre uma atração. Resolvi a animar festa infantil como palhaço Jôjô Bolinha era um barato. Muita correria num Chevette 77 preto que eu chamava de "Beethoven" não podia passar de setenta quilômetros por hora, o pobre do Beethoven não agüentava e detalhe estava aprendendo a dirigir era hilário de Santo André a Santo Amaro atrasado, pintado de palhaço com duas assistentes vestidas de bonecas de pano e mais um produtor, toda a tralha e lá íamos nós na fé.

Abri uma academia e ia conciliando tudo: aulas, ensaios e trabalhos.

Em 1993 conhece uma produtora de eventos, Vida Sanches, Uma verdadeira mãe daquele monte de aspirantes á atores. E me convidou para participar de um evento no Play Center, "Noites do terror", dançar num show do cover do Raul Seixas. Roberto Seixas. Na primeira parte eu era um dos monstros no parque, "mico" Verdadeira tortura cada aventura! E na segunda; bailarino. Foi uma experiência bárbara, além de grandes amigos que surgiram apartir dalí. Com esses amigos fizemos muitas coisas, muitos outros "micos" inclusive um show que apresentávamos em circos por todo o Estado, “Os Cavalheiros do Zodíaco”, um dezenho animado japonês, que fazia muito sucesso na época. E que terminou numa confusão com um sujeito que era uma espécie de “bicheiro” "coronel" no ABC, e que queria de qualquer jeito passar a perna nessa produtora e ficar com o figurino, dinheiro de bilheteria; alias neste dia foi um babado, o circo estava no centro de Santo André e foi cercado por Capangas do cara, no final da ultima sessão querendo pegar o figurino, nós o elenco inteiro fugimos do circo vestindo o figurino, foi terrível; hoje engraçado, acabamos a noite numa delegacia no Pacaembu dando queixa do "marfará". Imagina a cena?

No final de 1993, fui trabalhar no Parque do Beto Carreiro em Santa Catarina como bailarino. Na volta, inicio de 1994, começo animando festas infantis, como palhaço e dando aulas de balé no interior de Minas Gerais, Pouso Alegre, Foi neste ano (1994), que criei a Bug, Bárbara Ursulla Guimarães. Tudo uma grande coincidência havia colocado um anuncio para fazer telegrama animado os personagens: príncipe, xeique árabe, Dom Juan e etc... Todos masculinos e um dia ligou uma pessoa que gostaria de fazer uma brincadeira com o seu gerente, (era de um banco, lembro como se fosse hoje era uma agencia da CEF do Cambuci) no meio da conversa sugeri um ator vestido de mulher, eu só tinha um vestido e um par de sapatos que tinha comprado para um carnaval qualquer, a cliente gostou da idéia e fechou o trabalho. Corri na vinte e cinco de março, comprei uma peruca horrorosa me coloquei de bonita e me joguei para o Cambuci no "Beethoven" então nasceu Barbara Ursulla Guimarães; a Bug. Com a única intenção de animar festas, Telegrama animado, nesta época era muito bom trabalhar, pois o numero de artista fazendo era muito pequeno com qualidade e respeito. Participei de muitos desfiles, "Figurinos Modernos" Uma grife que um grande amigo-irmão Valter Santana criou. Ele criava figurino apartir de material reciclado, diferente e bonito. Montamos um desfile show e saímos apresentando, fizemos vários programas de TV até no Jô na época SBT, oh que chic!

Tive outras experiências muito engraçadas tentando fazer outros personagens, mas foi catastrófico.

Uma vez fui fazer uma homenagem a uma mulher que ia se casar. A Disney tinha lançado o desenho animado Aladim o filme, fez muito sucesso, daí tive a infeliz idéia de me colocar dentro de uma caixa toda enfeitada de azul; vestido como o gênio, e saía gritando, - Sou o gênio da lâmpada e estou aqui para satisfazer todos os seus desejos. Claro foi um fiasco Imagine a situação:

O figurino era todo azul, turbante, colete com a barriga de fora, aquela calça bufante e um sapatinho horrível tudo azul celeste. No meio da apresentação uma das meninas que trabalhava no escritório gritou lá do fundo: Arrasou Sherazade! Foi muito engraçado acabei a homenagem como se fosse eu mesmo fazendo um telegrama. E daí resolve. Só vou fazer a BUG. Convence-me de que não convencia ninguém como gênio ou Don Juan.

A BUG já participou de festa beneficente, em uma associação de deficientes, especiais e carentes. Claro uma experiência que não dá para falar ou escrever; somente vendo e sentindo tudo aquilo, foi muito mágico. Alias, a Bug faz muito sucesso entre as crianças.

Num outro período abri os shows do Norton Nascimento que tinha resolvido ser cantor. Ai uma estória á parte acho que ficou somente em um único CD graças aos céus. Era muito melhor ator. Grande homem, de um coração bom, muito bom profissional e lindo.

Em 1997, fui indicado para o XIX prêmio APETESP de teatro infantil, como melhor coreógrafo, com o espetáculo "Poliana, a Menina" depois passei para produção. Assistente de direção e substituía todo o elenco nos momentos de necessidade, o famoso "stand bay". Maravilhosa experiência! Convivi com gente muito boa. Aqui só para não deixar de comentar aprendi muito com Dacio Delamonica, foi quem adaptou o texto, dirigiu e deu aulas de humildade e paciência. Alias 97 foi um ano espetacular, pois foi quando ganhei do universo, do criador sei lá... Um dos maiores presentes que a vida já havia me dado depois do Don de viver, o meu filho, que hoje, um rapaz lindo e continua me dando muitas alegrias. È a razão do meu viver, não me vejo sem a existência desta criatura fabulosa e encantadora. Cunho com muito sacrifício e dificuldades como todo pai e mãe no meu caso sou os dois e o amo sem restrições e nenhuma vergonha. E que sempre me acompanhou desde muito pequeninho dentro de um "Moises" no banco traseiro do carro a maioria dos meus trabalhos.

Em 1998, fui trabalhar como coreógrafo na Fazendinha do Betinho Carrero, até 2001.

Algumas viagens pelo exterior, Japão, Cingapura (como bailarino e coreógrafo) e agora Europa; França, Itália e Alemanha estes dois últimos fui trabalhar com a BUG, Sessenta dias de muita correria mais valeu á pena, fui muito bem tratado e respeitado por onde passei com minha a personagem. Inesquecível a copa do mundo na Alemanha em 2006, Com uma banda italiana. Só para constar a seleção italiana foi campeã naquele ano. Ou seja, sou pé quente!

Hoje vivo exclusivamente para animar festas e eventos, adoro o que faço, e o faço com muito carinho, amor e empenho, dedico-me muito ao meu trabalho tentando faze-lo com toda seriedade e competência. Divirto-me com o trabalho e sou feliz, mais às vezes tenho alguma dificuldade de conseguir convencer as pessoas de que é um trabalho digno, serio e que vale á pena ver, ou melhor, contrata-lo, tê-la como atração em um evento.

O maravilhoso é que sempre depois de assistir ou participar de uma apresentação os contratantes, convidados acabam indicando para outro e assim vai crescendo o numero de fãs e clientes. Ainda Bem! Às vezes os clientes no dia seguinte ligam para agradecer, elogiar falam emocionados; passam e-mail é gratificante. Isso é que faz com que eu continue insistindo nisso. Estou sempre rezando para que o telefone toque é complicado eu sei. Mas desde 1994 até hoje claro que já tive muitas experiências agradáveis e outras nem tanto, mas o mágico desse meu trabalho é que chego num evento completamente desconhecido, estranho a todos e saio Dalí como o mais intimo. Compensador é no dia seguinte, ou um ano depois aquele cliente ligar para contratar novamente e comenta o quando você fez a diferença naquele dia. Tenho uma cartilha de clientes bem diversa e variada, Desde a instituição financeira mais radical, fechada, até as famílias mais tradicionais e em todos esses ambientes sou muito bem recebido e tratado como um verdadeiro artista merece.

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